As cervejas artesanais e importadas (“especiais”, como querem alguns), que até recentemente eram alternativas, estão chegando ao mainstream, e, com isso, uma legião de novos seguidores da onda chegou aos bares e lojas especializadas, e aos fóruns virtuais. Atendendo a alguns pedidos, elaboramos uma listinha de algumas sugestões gerais para quem está se aventurando neste meio.

DIGA NÃO AO PRECONCEITO

É natural que, ao descobrir a enorme variedade de cervejas existente no mundo, o bebedor passe por uma fase de “cuspir na cruz”, amaldiçoando o milho e o arroz colocados pelas grandes indústrias no seu sagrado “suco de cevada”. Mas depois de espernear um pouco, é preciso parar de frescura e analisar os fatos. Se todas as cervejas no mundo, obrigatoriamente, fossem feitas apenas de malte de cevada, não haveria cevada suficiente para suprir toda a sede mundial pela bebida. Segundo, não tem nada a ver com a “qualidade” da bebida. No mais, quem criou essa “obrigatoriedade” sem o menor cabimento foram os alemães, há míseros 500 anos – enquanto a cerveja tem mais de 5 mil anos de história registrada. Por fim, cada tipo de cerveja tem sua história e sua função. O que nos leva ao próximo ponto…

JULGUE CADA CERVEJA PELO QUE ELA É

Existem mais de 100 estilos de cerveja catalogados e amplamente utilizados. E, veja só que curioso, nenhum deles é “a verdadeira cerveja”. Cada um tem suas características, sua trajetória, seu lugar no mercado e nos corações e mentes dos consumidores. Uma cerveja simples e barata para refrescar é uma cerveja simples e barata para refrescar, não adianta esperar dela uma explosão de sabores e aromas (claro, há cervejas que podem ser mais complexas e também refrescantes, mas não vão ser baratas). Assim como não dá para exigir que uma cerveja altamente complexa e alcoólica seja fácil de beber. Repetindo, cada cerveja tem sua função. O que nos leva ao próximo ponto…

cerveja artesanal em santos

CONHEÇA OS ESTILOS E PROCURE O(S) SEU(S) FAVORITO(S)

Mas e onde estão todos estes tais 100 estilos catalogados? Bem, os dois principais guias estão disponíveis online, e são gratuitos: o do Programa de Certificação de Juízes de Cerveja (BJCP, na sigla em inglês) e o da Associação de Cervejeiros (BA, também na sigla em inglês) dos EUA. Claro que, sendo guias de referência, lê-los de cabo a rabo é uma tarefa chata. Mas nas versões eletrônicas, é fácil buscar as palavras chaves que indiquem estilos que podem lhe agradar. Também estão disponíveis em forma de aplicativos para celular. Com uma compreensão básica, as sugestões dos especialistas também vêm bem a calhar, quando possível. É preciso ter em mente, contudo, que estes guias de estilos não estão gravados em pedra como os dez mandamentos, nem são suficientes para conter toda a criatividade cervejeira. São boas referências, mas não saia por aí como se estivesse recitando um livro sagrado. Após de algum tempo se acostumando com a nomenclatura moderna, fica mais fácil, ao olhar os rótulos em uma loja ou no supermercado, ou na carta de cervejas de um bar (que raramente vêm com explicações detalhadas, ou mesmo corretas, dos estilos). O que nos leva ao próximo ponto…

degustação de cerveja em santos

ENTENDA AS DIFERENÇAS ENTRE OS PONTOS DE VENDA

Há dez anos, quem apreciava uma cerveja diferente estava praticamente limitado, no Brasil, às lojas especializadas. Depois, os bares especializados começaram a se popularizar, e por fim, as redes de supermercados se abriram para a novidade. Mas por mais que os três cumpram, em última análise, a mesma função (vender cerveja), é preciso compreender as diferenças, para não se chatear e para não chatear os outros. O supermercado, na maioria das vezes, terá os melhores preços – afinal, lidam com volumes maiores, podem diluir melhor as margens de lucro entre a sua enorme variedade de produtos. Você pode comprar cerveja mais barata, assim como os petiscos, mas vai ter que voltar pra casa, esperar que a sua geladeira trabalhe para deixar as cervejas na temperatura, vai ter que preparar os acompanhamentos, e depois lavar os copos e talheres, etc etc etc. Um bar oferece uma experiência diferente, mais cômoda, de simplesmente chegar, escolher o que quer, beber e comer e voltar pra casa. E cobra mais caro por isso, obviamente.

cerveja-degustação em santos

ESTABELEÇA UM ORÇAMENTO MENSAL PARA CERVEJA

Como as cervejas fora do padrão de massa (as “tipo pilsen”) infelizmente não são baratas (muitas vezes, pelo contrário), um pouco de planejamento financeiro faz bem para quem está ingressando nesse meio. Pessoalmente, demorei um pouco – alguns anos – para chegar a esse passo. No começo, saía comprando o que aparecia de bom pela frente; por sorte, me arrependo de poucas aquisições. Claro que esse limite de orçamento também não é algo pra ficar gravado na pedra, que você não pode ultrapassar de forma alguma. Eventualmente, se aparecer uma oferta realmente importante de uma cerveja que você curte, ou uma garrafa rara a um preço convidativo, ou mesmo se você perdeu um pouco a linha numa celebração com os amigos… ok, não vai ser nenhum crime. O importante aqui é ter um referencial do quanto é saudável gastar em um mês, de acordo com os seus ganhos, para não ficar no chororô de “as cervejas estão me levando à falência”…

MANTENHA REGISTROS DAS DEGUSTAÇÕES

Agora, no início, pode parecer bobagem. Mas, acredite, depois de algum tempo você vai se arrepender de não ter algum tipo de informação das primeiras degustações que fez. Com foto, se possível (hoje em dia é fácil, com as câmeras de celular) e alguma descrição. Há quem pense que fazer anotações é inútil porque não domina todo um palavreado (basta fazer curso de sommelier que a pessoa sai falando em “dulçor”, palavra que na vida real não se usa pra nada, entre outros exemplos) típico das descrições sensoriais dos especialistas. Surpresa: você não precisa dominar esse palavreado. Escreva o que vem à mente. Se o cheiro (aroma é mais classudo, mas cheiro é cheiro) da cerveja lembra desinfetante de pinho, não tem problema nenhum em colocar isso. Ou se lembra o doce de banana da vovó. Esses registros não precisam ser compartilhados com ninguém. São uma ferramenta inestimável para você avaliar as mudanças na sua percepção.

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BEBA PORQUE GOSTA, NÃO PARA OSTENTAR

Se você está bebendo cervejas artesanais-importadas para mostrar que é um cara de gostos sofisticados, você está fazendo isso errado. Se você está bebendo para mostrar que você “pode” ($$$$), você está fazendo isso errado. Se você está bebendo porque todo mundo está fazendo, você está fazendo isso errado… Tá, e daí? Bom, e daí, nada, no fim das contas. O máximo que pode acontecer é alguns te acharem uma mala sem alça. Mas se você não está tirando nenhuma real satisfação disso, por que fazer? Talvez você comece com uma destas motivações equivocadas e descubra que há mais que isso. Se isso acontecer, ótimo. Mas se não… não seja um “poser” da cerveja, só quem perde é você mesmo. Vá procurar algo que realmente curte, mesmo que não dê ibope.

CUIDADO COM AS LENDAS CERVEJEIRAS

“Se a lenda é mais interessante que o fato, publique-se a lenda”. Infelizmente, é um ditado que se aplica muito bem à história da cerveja. E o meio cervejeiro está repleto delas. A IPA foi criada porque as cervejas não sobreviviam à viagem entre a Grã-Bretanha e a Índia. Falso. A imperial stout foi criada para agradar aos nobres da corte russa. Falso. A “lei de pureza” alemã foi inventada para ser uma garantia de qualidade da cerveja. Falso. Apesar de falsas, todas essas – e muitas outras – histórias são passadas adiante como se fossem verdade, até por especialistas renomados. Mas como distinguir o que fato do que é lenda? O que nos leva ao próximo ponto…

BUSQUE INFORMAÇÃO EM FONTES VARIADAS

Informação NUNCA é demais. Nunca mesmo. Com a cerveja, não haveria por que ser diferente. Não existe nada de ruim em ter um veículo preferido, em qual se confia mais ou ao qual se recorre com mais frequência. Mas é contrastando diferentes fontes de informação que a gente aprimora o nosso conhecimento. Vale tudo, revista, site, livro… Mas se você quer realmente se informar, não basta ler. É preciso estar atento, também, às fontes das suas fontes. Fulano faz uma afirmação x. Ok, mas com base em que? Em uma entrevista, em um documento, na experiência própria? Esse tipo de dado é importante para definir o grau de confiabilidade da informação.

EVITE SER (MUITO) CHATO

Essa é uma regra que vale para a vida, mas no mundo da cerveja, está valendo ouro. Chato todo mundo é, pelo menos um pouco. E o que é, então, ser muito chato? Ser muito chato não é eventualmente corrigir uma informação errada que alguém (principalmente um formador de opinião)  ransmita. Ser muito chato não é expor sua opinião, ainda que crítica, de forma polida. Ser muito chato, em essência, é não conseguir se reconhecer como chato, é achar que o problema são sempre os outros, que você está sempre certo, e não conseguir reconhecer nada de bom no que vê na sua frente e à sua volta. Isso na minha opinião, claro. Você pode discordar. Apenas… Tente não ser esse cara. Os outros agradecem.